Gilmar Mendes relatou que Lula ofereceu blindagem na CPI do Cachoeira se o julgamento fosse adiado.
Brasília. A oposição protocolou na tarde de ontem um pedido de investigação na Procuradoria Geral da República contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo reportagem da revista "Veja", o ex-presidente teria pedido ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o adiamento do julgamento do mensalão.
DEM, PSDB, PPS e PSOL afirmam que Lula cometeu três crimes e precisa ser responsabilizado judicialmente por sua atuação contrária ao julgamento.
Lula teria prometido ´blindar´ Gilmar Mendes na CPI do Cachoeira, com relação ao encontro que ele teve com o senador DemóstenesTorres em Berlim FOTO: REUTERS
No pedido, a oposição diz que Lula praticou tráfico de influência, corrupção ativa e coação no curso do processo judicial - três crimes tipificados no Código Penal. Segundo o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, o presidente precisa esclarecer os motivos do encontro com Mendes.
"O fato é surpreendente para alguns, mas nós já conhecemos o comportamento do ex-presidente. Ele nunca agiu de forma rigorosa para combater o mal feito. É um comportamento nada republicano dele, com a coragem do ministro Mendes de revelá-lo", afirmou Dias.
Segundo "Veja", Mendes relatou que Lula ofereceu blindagem ao ministro na CPI do Cachoeira em troca do adiamento do julgamento. O ministro confirmou o encontro com Lula e o teor da conversa, mas não quis dar detalhes.
"Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", diz. O encontro aconteceu em 26 de abril no escritório de Nelson Jobim, ex-ministro de Lula e ex-integrante do Supremo. Ontem, Jobim se recusou a comentar o encontro.
O próximo passo de Lula seria procurar o presidente do STF, ministro Carlos Ayres Britto.
O ministro Celso de Mello disse que, se estivesse no cargo, o ex-presidente Lula poderia sofrer um processo de impeachment por causa da reunião com o ministro Gilmar Mendes. Ayres Britto, por sua vez disse que Lula precisa ser ouvido.
Já o ministro Marco Aurélio Mello afirmou que nunca deveria ter ocorrido o encontro entre os dois.
Ex-presidente diz estar indignado com notícia
São Paulo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem estar indignado com a reportagem da revista "Veja" na qual o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirma ter ouvido do petista pedido de adiamento do julgamento do mensalão.
Lula afirma que nunca interferiu em decisões do Supremo e da Procuradoria-Geral da República nos oito anos que foi presidente, inclusive na ação penal do mensalão.
"O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja", afirmou Lula.
O ex-presidente, através de nota de sua assessoria confirma a reunião com Mendes, mas que a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. "Meu sentimento é de indignação", disse o ex-presidente.
Lula conclui a nota afirmando que a autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas por ele.
