Defensivo natural é utilizado para proteger Caatinga.
O bioma Caatinga é presenteado com defensivos naturais e lições ambientais na festa do seu Dia Nacional.
Consciência, conhecimento e educação são as principais alternativas para preservar o único bioma genuinamente brasileiro.
Ibaretama Ambientalistas, professores e estudantes resolveram presentear a Caatinga, no dia dedicado ao único bioma exclusivamente brasileiro, com uma atividade muito especial: uma oficina sobre defensivos agrícolas naturais. O curso será promovido por todo o dia nas escolas de Ibaretama, um dos Municípios do Ceará onde é desenvolvido o Pró-Jovem Campo - Saberes da Terra.
Técnicos e alunos do programa federal levarão para as salas de aula os resultados das experiências desenvolvidas na unidade técnica implantada na zona rural. A atividade terá como objetivo orientar e sensibilizar a população para a importância da preservação das riquezas naturais, principalmente a flora.
Segundo o técnico regional do programa Pró-Jovem Campo, professor Ednaldo Calixto, além do desmatamento, os agrotóxicos industriais também são responsáveis pela devastação da mata nativa sertaneja. Muitas espécies estão desaparecendo por conta da utilização desses produtos químicos.
Os agricultores da comunidade de Canafístula, onde funciona a unidade técnica demonstrativa do Pró Jovem Campo, usavam até pouco tempo atrás esses tipos de inseticidas. Hoje, a realidade é outra, garante. Aprenderam a utilizar defensivos e fertilizantes naturais.
Calixto se refere aos bioprotetores, como são conhecidos os inseticidas naturais. No campo, os agricultores podem encontrar alternativas para proteger suas lavouras das pragas e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente, a mata peculiar da região. Ele cita o suco de alho com cebola como uma boa opção para o controle de pulgões, insetos que em grande quantidade podem debilitar as plantas, e os nematoides, parasitas vegetais. Para defenderem suas lavouras não conheciam outra opção, além dos agrotóxicos.
Outro exemplo natural citado pelo técnico é a urina de vaca. O produto deve ser coletado pela manhã em uma garrafa pet de 2 litros. Lacrada, deve ficar em repouso por um período de sete dias. Passado este período, está pronta para o uso. As aplicações devem ser feitas com pulverizador numa dosagem de 200ml para 20 litros. "Na realidade, a urina de vaca funciona como biofertilizante, aumentando a resistência das plantas", explica.
Agricultores presenteiam a Caatinga com defensivos e fertilizantes naturais. Com o Pró Jovem Campo aprendem a extrair o sustento da terra sem degradar o meio ambiente.
FOTOS: ALEX PIMENTEL
FOTOS: ALEX PIMENTEL
Controle
Todavia, o mais rico inseticida natural pode ser extraído do nim indiano, uma espécie invasora de origem asiática muito utilizada na arborização de áreas urbanas. O defensivo pode controlar até 200 tipos de insetos e pragas pelo conteúdo de azdirachtina, princípio ativo da planta. É bastante efetivo no controle de traças, lagartas, pulgões, gafanhotos, cochonilhas e outros insetos. O óleo extraído de suas sementes deve ser diluído na dosagem de 0,5% litro em 100 litros de água. Em seguida, pode ser aplicado por meio de pulverização, sobre as folhagens e frutos.
Após meses utilizando esses produtos, os agricultores alunos do Pró-Jovem Campo estão convencidos da eficácia dos defensivos extraídos da própria natureza. Calixto ressalta a ação do Governo Federal no desenvolvimento do programa executado pelo Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (IDT) em parceria com a Prefeitura de Ibaretama. Sua finalidade é a elevação de escolaridade, qualificação social e profissional de jovens fora da faixa escolar.
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura Municipal de Ibaretama
Secretaria Municipal da Educação do Município de Ibaretama
Secretaria Municipal da Agricultura do Município de Ibaretama
Rua Padre João Scopel, S/N, Centro
Telefone: (88) 3439.1055
FALTA CONSCIENTIZAÇÃO
Terceiro ecossistema mais degradado do Brasil
Segundo o educador e ambientalista Eremberg Gonçalves, um dos incentivadores do programa Pró-Jovem Campo em Ibaretama, 28 de abril foi instituído Dia Nacional da Caatinga por meio de decreto presidencial, de 20 de agosto de 2003, escolhido em homenagem ao primeiro ecólogo do Nordeste brasileiro e pioneiro em estudos da Caatinga, o professor João Vasconcelos Sobrinho. Durante muito tempo pensou-se que a Caatinga fosse um ecossistema pobre, por isso a escassez de estudos sobre ela.
Conforme Gonçalves, pesquisas realizadas apontam que o patrimônio biológico da Caatinga não é encontrado em nenhum outro lugar do mundo, além do Nordeste do Brasil. Inclui áreas do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e o Norte de Minas Gerais.
Espécies nativas
Dentre suas espécies nativas constam amburana, aroeira, "barriguda" (Cavanillesia arborea), juazeiro, umbu, baraúna, maniçoba, macambira, mandacaru, juazeiro e a carnaubeira, considerada árvore símbolo do Estado do Ceará.
No entanto, esses estudos não trazem boas notícias. Pesquisadores constataram que a Caatinga é o terceiro ecossistema brasileiro mais degradado, atrás da Mata Atlântica e do Cerrado. No total, 50% de sua área foram alterados pela ação humana, sendo que 18% de forma considerada grave por especialistas. A desertificação, encontrada principalmente em áreas onde antes se desenvolvia o plantio de algodão, apresenta-se bastante avançada.
Além do desmatamento, outro sério problema enfrentado por esse domínio é a caça aos animais. A porcentagem das áreas de Caatinga protegidas por reservas e parques é ínfima: 0,002%, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Espécies como sapo-cururu, asa-branca, cotia, preá, veado-catingueiro, tatu-peba, sagui-do-nordeste e cachorro-do-mato estão ameaçados de extinção, alerta. "Nada melhor do que uma sala de aula para mudar essa realidade", acrescenta o educador.
Proteção
No início do ano letivo, a Secretaria de Educação de Ibaretama implantou a educação ambiental no seu currículo escolar. Hoje, 29 escolas e 3.400 alunos do 5º ao 9º ano aprendem com essa disciplina a importância de preservar a natureza. A ideia surgiu em uma aula de campo, realizada na localidade de Serra Azul, em novembro do ano passado, pelos monitores do Pró-Jovem Campo. O secretário de Educação e Cultura do Município, Humberto Maia de Queiroz, ficou impressionado como o interesse dos alunos.
Nos três primeiros meses do semestre escolar, além dos estudantes, a comunidade está se envolvendo, aprendendo sobre a importância da natureza.
Alex Pimentel
Colaborador
FONTE: Diário do Nordeste
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