Na virada do sábado para o domingo, centenas de pessoas circularam pelo Centro Dragão do Mar para conferir a segunda edição do Manifesta!, ampliando a mistura de tribos já própria da noite do local.
Em 1979, uma turma de jovens artistas decidiu fazer uma grande reunião de linguagens para mostrar o que mais o Ceará tinha. Entre cantores, artistas plásticos, atores e admiradores, eles fizeram história com o nome cheio de significados Massafeira Livre. Não por acaso, 32 anos depois, aquele momento único da cultura cearense é a inspiração clara para o Manifesta! Festival das Artes.
Com sua segunda edição realizada das 18 horas do sábado (19) até as 6 horas do domingo (20), o grande encontro trouxe centenas de pessoas para o Centro Dragão do Mar para assistirem shows musicais, performances, exposições, espetáculos de teatro e dança. Tudo de graça. Um dos moradores resistentes do entorno do centro, o artista plástico Zé Tarcísio, com 70 anos recém completados, foi o grande homenageado na noite.
A gratuidade das apresentações merece um destaque especial, motivo para a presença de públicos tão diferentes em cada espaço. Na apresentação do tambor de crioula Filhos do Sol, por exemplo, era possível ver jovens, adultos e crianças assistindo o rodar das saias e a batucada. Uns nem gostavam, outros até faziam pouco, mas todos se manifestavam de alguma forma. Rindo, batendo o pé, balançando o corpo ou simplesmente olhando. De regra, cada um procurava aquilo que mais lhe agradava.
Agregado àqueles que foram exclusivamente para conferir a imensa programação do Manifesta!, estavam os punks, góticos e emos que frequentam a praça do Dragão no sábado, os boêmios dos bares, os sambistas do Amici’s e o público das boates do entorno. Todos se misturavam, circulavam e aproveitavam a oportunidade para curtir a programação atípica daquela noite.
Interação
Muitos trabalhos chamaram a atenção do público no Manifesta!. No Sesc Iracema, Alexssandra Ferreira expôs a obra interativa Duis Dolor – Recipiunt Dolor. Cartões postais com imagens de hematomas colocados sobre uma mesa convidavam o público a dedicar sua dor a alguém e pregar num mural. Entre os “homenageados” estavam anônimos, maridos que batem nas esposas, e a prefeita Luizianne Lins. Ainda empolgados pela participação no festival Planeta Terra, os Selvagens à Procura de Lei reuniram uma boa turma de fãs no gargarejo do palco da Praça Verde. Um set curtinho e eles mandaram ver numa série animada de hits próprios. A mesma animação foi vista com o coletivo Comparsas da Vivenda, só que no palco Rogaciano Leite, sob a passarela, atraindo atenção também com seu trabalho autoral.
Ao lado, na estátua do Patativa do Assaré, outros artistas se revezavam em performances. Em um delas, um microfone foi apontado para a estátua dando voz para o próprio poeta recitar seus versos com a ajuda de um gravador. Ao mesmo, uma turma dançava sob o planetário, um grupo se apresentava no teatro, outro grafitava no muro da Capitania dos Portos. Tudo ao mesmo tempo. À medida que a noite ia se adiantando, mais gente chegava para confirmar a vocação notívaga e artística do povo fortalezense.
Marcos Sampaio
marcossamapaio@opovo.com.br
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