quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

EU NÃO SOU O MESSIAS! Um comentário de Jo 3, 22-30.

“Eu não sou o messias, mas sou enviado diante dele” (Jo 3, 28). Ver, assimilar a verdade, deixar-se por ela libertar e plasmar para alcançar a liberdade, eis a marca registrada de São João Batista, o precursor de Nosso Senhor. Sendo enviado diante do Messias, em nenhuma hipótese arvorou-se assumir a identidade ou o papel do Cristo de Deus. Por mais que pareça óbvio e ululante, é de suma importância cada qual permanecer no seu lugar e lá permanecer, na convicção profunda, deste ser o caminho a ser tomado. As tentações de querer ser o messias na vida das pessoas, das comunidades, instituições e, por conseguinte, da Igreja ou mesmo do mundo, sempre perpassou os corações em sua humana fraqueza. A humildade, que é a verdade, quando é sólida, não dá espaço para ilusões. O humilde não se engana, nem engana. Sabe muito bem que por meio de uma evangelização ousada e de uma fé que opera na caridade, não deve se permitir omitir em fazer das pessoas seguidoras do único Cristo Messias. Sem buscar atrair ou formar discípulos para si, ao máximo será, na vida das pessoas, um ponto de passagem e nunca um ponto de chegada. A desobediência, a presunção, o orgulho, a vaidade, a soberba e todo o triste cortejo de conseqüências nefastas das corrosivas ações na vida das pessoas, fatalmente leva-las-á ao engano profundo. Cada qual procure conhecer e viver no melhor dos modos e na mais vívida verdade, a missão confiada a si por Deus. Ele nos dará tudo quanto precisamos para o exercício deste ministério-serviço. Efetivamente, lembra-nos São João: “Um homem nada pode receber a não ser que lhe tenha sido dado do céu” (Jo 3, 27). Noutras palavras, tudo recebemos do Senhor, nosso único benfeitor e supremo provedor. Esta visão de fé inspirou Santo Agostinho a dizer em suas “Confissões”: “Dá-me aquilo que pedes e pede-me aquilo que quiseres” (Livro X, n. 10). As criaturas, as instituições, os acontecimentos acabam, de um jeito ou de outro, assumindo um papel de seus ministros, seus canais e seus instrumentos a fim de que os divinos favores ou a divina correção cheguem a nós. O zelo grande deve ser o de amar a Deus. Quem ama a Deus está sempre em vantagem, no lucro certo, na felicidade garantida. Quem no-lo assegura é Paulo quando afirma: “Tudo contribui para o bem daquele que ama a Deus” (Rm 8, 28). Ninguém com isso, deve se sentir autorizado, em nenhuma hipótese, a fazer o mal, nem a se acomodar em não fazer o bem, podendo e devendo fazê-lo. Não somos marionetes nas mãos de Deus! Ele, em sua sabedoria e providência, sabe dispor de tudo e de tudo tira um bem Maior. Permanece a missão de construirmos com diligência e reta intenção, o Reino de Deus. Sim, é preciso querer, mas o querer deve ser amor e nada mais é amor senão viver a caridade da Trindade que ao revelar sua vontade, exalta ao máximo nossa liberdade e nos plenifica com sua eternidade! Certamente, alegrar-se-á o amigo do esposo, ao ouvir deste esposo a voz. Nesta voz, está a Palavra. A alegria de contemplar este Cristo que desposa a Igreja é prenúncio das núpcias eternas da feliz eternidade. No rastro desta alegria “é necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30). Desafio grande para o orgulho humano é diminuir, apequenar-se. Sem esta humilde disposição, a evangelização está fadada a reduzir-se a uma triste orquestração de vanglória do evangelizador. Pode até existir eficiência e exuberância nos meios, mas a fecundidade está comprometida. Ele dará a si mesmo, ao invés de dar Cristo. Esta liberdade de saber aparecer e desaparecer, de estar aqui ou ali, de fazer esta ou aquela tarefa, não sentir-se necessário, mas ser disponível, tudo isso é saber diminuir. Assim, Cristo crescerá! Sem confundir-se com o complexo de inferioridade, a humildade é uma virtude de maturidade humana e espiritual que leva à ousadia apostólica por crer na sublimidade da causa e sobrenaturalidade dos meios. O humilde ao invés de olhar para si, contempla quem o chamou, ungiu e enviou. Conhecerá, valorizará e utilizará no melhor dos modos as ferramentas que Deus a ele disponibilizou. O que foi dado aos outros, bem, isso não é da sua conta. Naquilo que Deus doa e não doa, concede ou nega a cada um de nós, uma visão de fé é sempre uma inesgotável fonte de paz. Mantendo fixo o seu olhar em Deus, ele segue rumo à meta! Seguindo os passos do apóstolo Paulo, o evangelizador, vocacionado a ser também o precursor, prosseguirá para ver se alcança Cristo, pois que foi conquistado por Ele. Deste modo, esquecendo-se o que fica para trás, avançando para o que está adiante, prosseguirá para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (cf. Flp 3, 12-14).


FONTE: http://rapaduraespiritual.blogspot.com/2011/12/eu-nao-sou-o-messias-um-comentario-de.html